IA já é usada por 47% dos escritórios Mais Admirados do país | Análise
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IA já é usada por 47% dos escritórios Mais Admirados do país

O anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 trouxe pela primeira vez um panorama detalhado do uso de Inteligência Artificial nos escritórios

5 de December 10h28

Desde o advento da primeira revolução industrial na segunda metade do Século XVIII, a tecnologia tem impactado os meios de trabalho. Agora, em 2025, a sociedade encara sua quarta revolução industrial, com a integração de tecnologias digitais avançadas, como Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), em toda a cadeia de valor. Diante deste cenário, nem mesmo a advocacia conseguiu se desvencilhar, e parece não ter tido outra escolha senão abraçar a mudança.

Ao menos é o que mostra o anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026, o maior mapeamento da advocacia empresarial brasileira. Entre os 723 escritórios Mais Admirados que responderam à pesquisa, quase metade já incorporou a IA internamente, como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

As brechas da fortaleza

Independente do setor de atuação, é comum encontrar colaboradores que estão fazendo uso de algum tipo de IA no dia a dia. Em alguns casos, profissionais utilizam inteligências artificiais até mesmo de forma não autorizada (Shadow IA), o que pode gerar uma série de problemas. Contudo, mesmo com esse risco, somente 23% dos escritórios Mais Admirados possuem políticas voltadas para a governança de IA. Confira o levantamento abaixo:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Segundo Fernando Crespo, sócio responsável pela parte de tecnologia e novos negócios do Arruda Alvim & Thereza Alvim Advocacia e Consultoria Jurídica, atualmente os escritórios lidam com muitos casos sensíveis. Sem uma política adequada de governança, esses dados ficam expostos a ataques cibernéticos e vazamentos, o que pode prejudicar a imagem do escritório perante o mercado.

"Essas políticas de governança são importantes inclusive para os advogados, porque muitas vezes as pessoas não sabem muito bem como funciona a inteligência artificial. Existem plataformas abertas, que ao colocar dados ali que são sigilosos, acabam ficando expostos", alerta Crespo.

Já para Ricardo Alves, sócio e head de inovação do Fragata e Antunes Advogados, não é apenas a questão do vazamento de dados que precisa estar no radar das bancas, mas também a questão da alucinação. "Imagina elaborar uma contestação com uma jurisprudência que não existe? Como resultado, essa conduta pode levar as autoridades a multarem o advogado, condenarem a empresa e até mesmo ocasionar na perda do cliente."

Como prevenir esses problemas?

Porém, mesmo que pareça algo assustadoramente grande, é possível blindar o escritório de usos indevidos de IA, com alguns passos simples. O head de inovação do Fragata e Antunes Advogados afirma que o escritório não abre mão do que chamam de "instrução normativa", que mostra como a Inteligência Artificial deve ser usada dentro da banca.

Dessa forma, a banca deixa claro aos colaboradores como espera que eles usem a Inteligência Artificial nos processos internos. Além disso, também se cria uma cultura de revisão dos resultados gerados por IA, o que impede que erros passem e, com isso, acarretem em problemas futuros.

IA é eficiência!

Devido à sua capacidade de processamento, a Inteligência Artificial (IA) consegue entregar respostas complexas com muito mais rapidez que o ser humano. Ao implementar isso dentro de uma rotina burocrática, é possível obter um ganho de eficiência que permite que os colaboradores foquem mais em processos intelectuais ao automatizar tarefas repetitivas.

O levantamento realizado para o anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 questionou os escritórios sobre quais foram os ganhos com o uso de IA. A pergunta permitia a escolha de mais de uma opção e, mesmo assim, 96% das bancas disseram que o maior ganho foi em eficiência. Veja os resultados no gráfico abaixo:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Um dos escritórios que relataram ter tido ganhos de eficiência com a implementação de inteligência artificial foi o Arruda Alvim & Thereza Alvim Advocacia. Fernando Crespo diz que a banca usa a IA para tornar o acompanhamento processual mais eficiente, o que gerou resultados positivos.

"Essa questão de busca das publicações, prazos, e rodar essas questões todas, facilitou bastante essa atividade de acompanhamento de processos, relatórios e etc com o uso de Inteligência Artificial. Ganhamos eficiência nesse sentido, de ter mais tempo para desenvolver outras atividades, em outras áreas", afirma o sócio do Arruda Alvim & Thereza Alvim Advocacia.

O mesmo aconteceu com o Mandaliti Advogados, escritório eleito nove vezes Mais Admirado no anuário ANÁLISE ADVOCACIA. Renato Mandaliti, sócio do escritório, diz que a IA conectou as ilhas de tecnologia da banca, dando ao time uma interface conversacional intuitiva, que democratizou o uso de dados e a jurimetria, trazendo mais eficiência interna.

"A IA não substituiu o que já existia, ela potencializou tudo: reduziu TMA, aumentou a quantidade e a qualidade dos acordos, melhorou o compliance. Além disso, reforçou a cultura de pesquisa e análise crítica. Em poucas semanas, tivemos advogados conversando com o assistente virtual como se fosse parte do time", reconhece Renato.

Como a IA tem colaborado?

As diversas tarefas em que os escritórios implementam a Inteligência Artificial (IA) geram os ganhos de eficiência mostrados no gráfico anterior. A 20ª edição do anuário também trouxe outro levantamento sobre onde a IA está sendo usada nas bancas de advocacia ao redor do Brasil. Os resultados podem ser consultados abaixo:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Segundo Fernando Crespo, mesmo que o Arruda Alvim & Thereza Alvim Advocacia utilize a IA para acompanhamento processual, devido ao viés acadêmico do escritório, os advogados usam um banco de dados próprio, alimentado desde 1999 com peças, jurisprudências, atualizações de leis, e etc., para uso interno.

Por conta disso, o sócio tem a visão de que, não importa em qual processo a ferramenta seja implementada, ela jamais conseguirá o mesmo grau de entendimento que o advogado do mundo jurídico.

Qual tipo de IA é usada pelos escritórios?

O mapeamento realizado pelo anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 forneceu um panorama sobre os tipos de Inteligência Artificial (IA) adotados pelos escritórios, com destaque para a IA Generativa e os modelos de implementação. A edição de 2026 questionou os escritórios Mais Admirados sobre o uso de Inteligência Artificial Generativa (GenIA). O levantamento coletou 340 respostas.

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Além de usar ou não a GenIA, os escritórios também informaram qual modelo de IA utilizam em seus processos internos. A esmagadora maioria dos entrevistados faz uso de modelos pré-treinados, enquanto somente um quarto dos escritórios desenvolve suas IAs internamente. Confira os números abaixo:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

O escritório Fragata e Antunes Advogados usa o modelo pré-treinado Eficiênc.IA, cujo case recebeu o Prêmio Análise DNA + Fenalaw 2025. O projeto realizou a integração de IA, jurimetria e automação para elevar a eficiência e qualidade, usando modelos treinados com dados reais e sintéticos. A iniciativa resultou na redução de prazos, aprimoramento de contestações, detecção de fraudes, ampliação de acordos e reforço na liderança em inovação jurídica.

Esse modelo pré-treinado, na visão de Ricardo Alves, trouxe uma série de vantagens. Além da possibilidade de apoio de uma lawtech, é possível sempre ter uma plataforma atualizada, com governança adequada para as necessidades do escritório, sem precisar se preocupar com a aquisição de equipamentos.

"Hoje em dia, não vejo escritórios comprando servidores, e aumentando a sua infraestrutura. Certamente, é muito mais fácil contratar uma nuvem, até mesmo pela questão da escalabilidade, em que você consegue aumentar rapidamente", afirma Ricardo Alves.

Em síntese, com o advento da IA, a sociedade está entrando na sua quinta revolução industrial. Essa "Indústria 5.0"  vai se concentrar na colaboração entre humanos e máquinas, criando um processo produtivo mais sustentável, resiliente e centrado no ser humano. Mas a advocacia vai entrar nessa nova reformulação? Tudo indica que sim. Mas essa é uma resposta que somente o tempo trará.

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