Dados mais recentes obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil possui uma população em que 55% se autodeclaram negras. No entanto, os resultados do levantamento realizado pela Análise Editorial para o e-book de Diversidade e Inclusão de 2023 indicam que, apesar de haver progresso, a representatividade de pessoas pretas ainda não reflete o cenário ideal.
A pesquisa ouviu um total de 333 escritórios. Destes, 44% relataram possuir pelo menos um sócio negro em suas equipes. Esse percentual aumenta quando se consideram os advogados associados, atingindo 68% dos escritórios com profissionais pretos nessa categoria. Contudo, uma certa ambiguidade ainda persiste no tópico: aproximadamente um quarto das bancas que participaram do estudo optaram por não responder se têm indivíduos negros em seus quadros societários.
A entrada de indivíduos negros nas bancas de advocacia também carece de medidas afirmativas. Apenas 3% dos escritórios participantes da elaboração do ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO indicaram possuir processos seletivos exclusivos para pessoas negras, enquanto somente 1% implementa a reserva de vagas para esse grupo específico.
Um exemplo que destoa dessa estatística é o caso do Pessoa & Pessoa Advogados Associados, um escritório sediado na Bahia, que conta com uma representação de 38% de sócios autodeclarados negros entre seus membros. Essa conquista não ocorre por acaso: a banca implementou um programa de capacitação dedicado exclusivamente a pessoas negras. Ao longo de 15 anos, o escritório tem sido consistentemente reconhecido como uma das bancas mais admiradas no panorama jurídico nacional.
"Diversidade é valorizar pluralidade e inclusão. É construir racionalmente, objetivamente, com investimentos e plano de ação com metas, com avaliação de processos. As pessoas não chegam lá porque não se esforçaram. Elas não chegam porque há obstáculos sociais que dificultam os caminhos", diz Camila Magalhães, sócia e presidente do comitê de Diversidade & Inclusão da banca.
Outra pessoa que nada contra a maré das estatísticas é a advogada Dione Assis, sócia do Galdino & Coelho Advogados, escritório eleito um dos Mais Admirados do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2022, e fundadora do Black Sisters in Law, movimento que busca fomentar a inclusão de mulheres negras no contexto do mercado jurídico empresarial.
O que teve início como um simples grupo no WhatsApp para compartilhar experiências evoluiu para uma extensa rede que já influenciou a trajetória de 1,5 mil profissionais. "Muitas delas têm as suas bancas, fazem parcerias com outras colegas, já temos sociedades constituídas por duas advogadas do próprio projeto. Assim vamos conectando-as com oportunidades reais do mercado jurídico. Esse é o nosso propósito", conta Dione.